Faltou o Sindicato Rural (2)
Faltou o Sindicato Rural (2)
Embora a produção agrícola do município aconteça na Zona Oeste, os produtores rurais pouco participam na discussão do tema, e com isso deixam de criar situações que favoreçam o desenvolvimento regional do seguimento. O Sindicato Rural do Município do Rio de Janeiro com sede em Campo Grande, na Estrada do Monteiro, foi o grande ausente no primeiro encontro do Pacto de Milão sobre Política de Alimentação Urbana na América Latina que aconteceu no Museu de Arte do Rio (MAR), nos dias 29, 30 e 31 de maio. O Sindicato é de fundamental importância no debate de políticas de alimentação urbanas em prol da segurança, sustentabilidade, redução das desigualdades sociais e fortalecimento de identidades regionais. Tal debate reconhece o potencial das cidades para contribuir com o tema da segurança alimentar e nutricional, estimulando o equilíbrio entre a produção rural e a urbana em prol de sistemas mais sustentáveis, além de reafirmar a Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro como celeiro do município.
A Embrapa Agroindústria de Alimentos, situada na Avenidas das Américas, em Guaratiba, é uma parceira natural e disponibiliza pesquisas e tecnologias desenvolvidas em prol da redução do desperdício de alimentos, entre outros benefícios aos sistemas inovativos de produção alimentar, além de identificar as tendências dos sistemas alimentares.
A prefeitura do Rio é a principal parceira nesse projeto e tem uma proposta de convênio com unidades da Embrapa da cidade do Rio de Janeiro. Com a Embrapa Agroindústria de Alimentos, está previsto o desenvolvimento de um Centro Público de Processamento de alimentos oriundos da agricultura familiar, com o objetivo de aumentar a vida útil e reduzir o desperdício. Também estão programadas capacitações para produtores failiares do Circuito Carioca de Feiras Orgânicas e assessoramento técnico para as atividades relacionadas ao Comércio Justo, com vista ao fornecimento de produtos para os restaurantes populares e alimentação escolar.
Com a Embrapa Solos, há previsão de instalação de um Fertmóvel, um laboratório de análise de solos que opera dentro de um furgão de 14 metros cúbicos, para apoiar a agricultura urbana do município. Também está em discussão a construção de um Mapa da Agricultura Familiar do Município do Rio de Janeiro, com dados do CAR – Cadastro Ambiental Rural e do IBGE, que subsidiará as ações, projetos, programas e políticas públicas que serão realizadas pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural da Cidade do Rio de Janeiro, no qual a Embrapa mantém um assento.
Nesse sentido, o Sindicato Rural precisará marcar presença na agenda construída a partir da revitalização do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural da Cidade do Rio de Janeiro, acontecida no ano passado, que está em plena realização. A primeira oportunidade não foi aproveitada: o primeiro encontro do Pacto de Milão sobre Política de Alimentação Urbana na América Latina aconteceu no Museu de Arte do Rio (MAR), nos dias 29, 30 e 31 de maio no Rio sem representantes do sindicato.
Lançado em 2015 na Itália, o Pacto de Milão sobre Política de Alimentação Urbana reúne medidas assinadas por mais de 184 cidades em todos os continentes – das quais 24 localizadas na América Latina – para o desenvolvimento de sistemas alimentares baseados nos princípios da justiça social e da sustentabilidade.
A chamada Declaração do Rio, assinada por representantes de 12 cidades latino-americanas ao final do I Fórum Regional das Cidades Latino-americanas signatárias do Pacto de Milão, estabelece as prioridades para a região incrementar a segurança alimentar por meio de políticas públicas que contribuam com a sustentabilidade, fortalecimento da identidade e redução das desigualdades. O documento, construído pelas cidades com contribuições da Embrapa e Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), norteará ações já em andamento em 24 cidades latino-americanas que aderiram ao Pacto de Milão e servirá para incentivar outras localidades a implementarem políticas públicas alimentares saudáveis e sustentáveis.
O Fórum reuniu mais de 200 especialistas de vários países da América Latina em palestras, mesas-redondas e workshops sobre temas alinhados aos três eixos ligados à segurança alimentar e nutricional na região: desigualdade, identidade e sustentabilidade. O comitê gestor contou com a participação da equipe da Embrapa Agroindústria de Alimentos. A pesquisadora Mariella Uzêda (Embrapa Agrobiologia) e o analista Gustavo Porpino (Secretaria de Inovação) foram palestrantes; e a analista Aline Bastos (Embrapa Agroindústria de Alimentos) moderou uma mesa na abertura do evento sobre perspectivas alimentares globais e aplicações locais. Um estande da Embrapa apresentou pesquisas e tecnologias relacionadas ao desperdício de alimentos como embalagens articuladas para frutas e revestimento que aumenta a vida útil dos alimentos. Uma variedade de soja verde desenvolvida pela Embrapa também foi divulgada. Conhecida como edamame, essa soja hortaliça tem sabor levemente adocicado, sendo rica em proteína, sais minerais, vitaminas e isoflavona.
Durante a abertura do evento, José Graziano, presidente da FAO, destacou que a aliança latino-americana é relevante para transformar compromissos globais em ações locais. “Implementar o Pacto de Milão significa promover sistemas alimentares sustentáveis com promoção de dietas saudáveis e redução do desperdício de alimentos”, salienta.
Para Graziano, os eixos de ação devem incluir a expansão das redes de bancos de alimentos, construção de restaurantes populares, incentivo a agricultura urbana sustentável e implementação de programas educacionais nas escolas com foco na melhoria da nutrição. “Sistemas alimentares devem oferecer dietas saudáveis, que incrementam a qualidade de vida. A América Latina é uma das regiões mais urbanizadas do mundo e 80% de todos os alimentos são consumidos em áreas urbanas”, complementa para destacar a importância do Pacto ser implementado nas cidades latino-americanas.
O fortalecimento dos vínculos rurais-urbanos também foi lembrado na mensagem por vídeo de Graziano e na fala presencial de Alain Grimard, representante da ONU-Habitat. “O desenvolvimento urbano só pode ser sustentável com área rural sustentável”, destaca Grimard, para quem, no contexto da América Latina, é urgente fortalecer mercados locais e aproximar a produção agropecuária dos consumidores. “Se são as cidades que lideram a demanda por alimentos, é natural que esta agenda esteja integrada às cidades”, enfatiza.
A chefe-geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Lourdes Cabral, representou o presidente Sebastião Barbosa no evento e destacou que, em cenário de aumento populacional nas cidades, migrações, mudanças climáticas e produção agrícola afetada por vários agentes bióticos como fungos e bactérias, e também por fatores abióticos, como o déficit hídrico, a escassez de acesso aos alimentos pode ser acentuada se os territórios não avançarem em inclusão produtiva e fortalecimento da sustentabilidade.
“O sistema de pesquisa agropecuária brasileiro gerou resultados importantes em curto período”, afirmou Lourdes ao citar o plantio direto, a fixação biológica de nitrogênio e a integração lavoura-pecuária-floresta como casos de sucesso. Para a pesquisadora, a conexão da agricultura com saúde e nutrição é um modelo consolidado e a vontade dos consumidores por mais qualidade reforça a importância de fortalecer a agricultura familiar e periurbana.
Durante o ato de assinatura da Carta do Rio, o analista Fernando Teixeira, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroindustria de Alimentos, citou o conceito de “caloria vazia” para ressaltar que estratégias de segurança alimentar devem ter foco na oferta de nutrição de qualidade. “O problema não é meramente ter acesso aos alimentos, mas também disponibilizar variedade e nutrição”, disse.
Articulação da Embrapa
O subsecretário de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro e coordenador do evento, Epitácio Brunet, ressaltou que o projeto liderado pela Embrapa nos Diálogos Setoriais União Europeia –Brasil possibilitou a aproximação da Prefeitura do Rio com experiências europeias e resultou na realização do Fórum do Pacto de Milão. “Vamos trabalhar agora para aumentar a adesão de mais cidades latino-americanas ao Pacto e já temos a sinalização de Lima para sediar o segundo Fórum em 2020, e de Buenos Aires para sediar uma reunião preparatória em outubro desse ano”.
Declaração do Rio
A Carta do Rio sobre política alimentar urbana saudável e sustentável firma o compromisso de 12 cidades e governos locais latino-americanas signatários do Pacto de Milão, em associação com organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO), a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Programa das Nações Unidads para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) e a Organização Panamericana de Saúde (OPS). Também prevê o respeito aos acordos previamente assinados pelas cidades como o Pacto Global da ONU, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Nova Agenda Urbana, o Plano de Implementação de Quito, a Agenda de Ação de Addis Abeba, o Pacto Mundial de Prefeitos e Clima e Energia, o Compromisso de Bogotá, a Data Limite 2020 de C40 e a Declaração Conjunta Urban 20.
A declaração realiza uma pactuação em torno de políticas públicas para promover sistemas alimentares urbanos que sejam saudáveis, nutritivos, inclusivos, resilientes e sustentáveis, com especial enfoque na sustentabilidade e na conservação de biodiversidade, na redução da desigualdade e no fortalecimento das identidades locais.
O evento foi organizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, e conta com o apoio da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO-ONU), Organização Pan Americana da Saúde (OPAS-OMS-ONU), Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), entre outros