CARTA ABERTA DO REITOR DA UEZO À COMUNIDADE
O projeto de criação de uma universidade pública na Zona Oeste data
de 2003, como resposta a um antigo anseio dos moradores da região.
Em 18 de março de 2005, através do Decreto 37.100, o embrião desta
universidade foi instituído legalmente, denominado de Centro Universitário
Estadual da Zona Oeste, caracterizando-se como a primeira Instituição de
Ensino Superior do Estado do Rio de Janeiro voltada para a tecnologia e a
inovação. Naquele momento, a UEZO estava vinculada à Fundação de Apoio à
Escola Técnica – FAETEC e começava a funcionar em um campus provisório,
nas dependências do Instituto de Educação Sarah Kubitschek. Vale lembrar
que as discussões em torno da criação da instituição na Assembleia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro geraram polêmicas, não tendo havido consenso
absoluto entre os deputados. Além disso, em 2007, ocorreu a mudança no
comando do executivo estadual, acompanhada, internamente, pela criação de
cursos com perfil acadêmico, como resposta às dificuldades de inserção e de
reconhecimento de alguns dos cursos tecnológicos propostos inicialmente.
Em janeiro de 2009, apesar de enfrentar, nos anos anteriores, uma série
de fatores constitutivos e conjunturais desfavoráveis, a instituição obteve sua
autonomia em relação à FAETEC, passando a Fundação de Direito Público
vinculada à atualmente denominada Secretaria de Estado de Ciência,
Tecnologia e Inovação – SECTI. Esse evento foi vivido como uma vitória,
atribuída à grande mobilização de toda a comunidade.
Por isso entendo que, desde a sua criação, a UEZO está sob o signo da
perseverança, da determinação e da ousadia. Nestes 11 anos de existência,
enquanto se desenvolvia (em um processo de aprendizado constante e em
meio a condições adversas), a instituição procurou fazer frente aos desafios,
contando, até hoje, com uma comunidade fortemente imbuída pelo desejo de
buscar a resolução dos problemas coletivos e o cumprimento dos propósitos
institucionais.
Ao traçar um panorama geral, penso que não podemos deixar de
reconhecer que avançamos muito nestes 11 anos, embora seja necessário
considerar, com uma visão retrospectiva, que vários pontos relativos à própria
identidade da UEZO devam ser amplamente debatidos e discutidos. Não posso
deixar de mencionar a grave crise que estamos vivendo, ocasionada não só
pela atual conjuntura econômica do estado, mas também pelos fatores
históricos e políticos acima mencionados.
Infelizmente, falta-nos ser tratados como aquilo que de fato a UEZO é,
uma importante política pública para o desenvolvimento do Estado do Rio de
Janeiro. Uma política pública difere de uma política de governo; e independe,
necessariamente, de qual grupo político está ou esteve à frente do governo.
Uma política pública é um compromisso, a longo prazo, assumido como uma
ação do Estado para a promoção do bem-estar dos cidadãos. Somos uma
comunidade de cerca de 2000 mil pessoas, comprometida com o
desenvolvimento de uma região com uma população de mais de um milhão de
habitantes, que concentra boa parte das indústrias do Estado e que perfaz
altos índices de arrecadação de impostos. Dessa forma, parece incongruente
que essa população continue fora do foco da tomada das decisões,
visualizando, sempre, uma destinação desigual e injusta de recursos entre os
diferentes territórios do Rio de Janeiro.
Um dos graves problemas que enfrentamos é a falta de valorização
profissional na UEZO, reflexo desse problema territorial. Entendo que, sem a
implementação do projeto de Dedicação Exclusiva, a aprovação do Plano de
Cargos e Carreiras, a equiparação salarial dos técnicos, a UEZO não consegue
cumprir com a sua missão. É necessário frisar que a UEZO é, hoje, a única
instituição que tem salário abaixo do praticado em qualquer outra Instituição de
Ensino Superior do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil.
Desde o início de fevereiro de 2016, as atividades acadêmicas da UEZO
estão paradas em função da ausência de serviços de asseio e de limpeza,
devido à falta de orçamento para adesão ao processo licitatório vigente na
Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – SEPLAG.
Em março de 2016, as associações dos docentes e do corpo técnico da
UEZO entraram em greve por entenderem que era a única alternativa para
terem seus pleitos atendidos. Entendo como sendo justas as reivindicações
apresentadas na pauta docente e dos técnicos. Esforços foram envidados pela
Reitoria para informar ao governo da paralisação e iniciar a mesa de
negociação. A Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação
agendou para o próximo dia 17 de maio a primeira reunião com o comando de
greve da UEZO.
Não consigo aceitar o descaso como estão sendo tratados os pleitos
acima citados, assim como a não contratação dos aprovados nos concursos
públicos docentes de 2014 e 2015. Sobre esse tema, o Ministério Público do
Estado do Rio de Janeiro entrará com uma ação civil pública para efetivar a
nomeação.
Essas pautas foram apresentadas por mim à comunidade da Zona
Oeste, no dia 29 de abril, em uma das reuniões periódicas da representação de
empresários local denominada Clube dos Treze. Pedi apoio ao manifesto que
estou redigindo ao governador do estado sobre a crise na UEZO. Outro ponto
que apresentei foi a não aprovação pelo executivo do orçamento solicitado pela
UEZO em 2015 para o exercício de 2016, o que inviabilizou o início das aulas.
O presidente do Clube dos Treze se comprometeu em ajudar. Deixo claro que
a pauta de anexação da UEZO à UERJ não foi tratada, mencionada ou
apresentada na reunião, em respeito ao CONSU e ao processo decisório que
está em curso internamente.
Sobre o tema da anexação, especificamente, mesmo entendendo se
tratar de assunto complexo e polêmico, prontamente atendi a solicitação da
Associação de Docentes do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste –
ADUEZO quando encaminhou o pedido para discussão como ponto de pauta
do Conselho Universitário. Após amplo debate, o CONSU deliberou a criação
de uma comissão composta por representantes dos docentes, técnicos, alunos
e da reitoria. Essa comissão tinha a finalidade de ouvir o governo, o parlamento
e a UERJ. Outro ponto deliberado pelo Conselho Universitário foi a convocação
de uma Assembleia Universitária para discussão do tema com a comunidade,
que ocorreu em 25 de abril. O próximo passo será a realização de uma
consulta pública à comunidade interna. As regras do plebiscito serão discutidas
nos próximos dias por uma Comissão e aprovadas pelo Conselho Universitário.
Tenho a convicção de que o debate é a melhor forma de encontrar as
soluções para os nossos problemas, pois cada um tem uma contribuição
importante para apresentar. A partir da formalização da proposta pela ADUEZO
ao CONSU, a Reitoria, em nenhum momento, foi refratária à discussão sobre o
tema da anexação à UERJ na comunidade e não interferiu no debate dentro
dos segmentos. Entendo que o papel da Reitoria, neste momento, deve ser o
de fomentar uma saudável discussão interna, respeitando as decisões de cada
segmento e da comunidade como um todo; entretanto, sem deixar de manter o
foco em nossos propósitos institucionais, e sem deixar de buscar a interlocução
com os diversos atores externos, já que a gravidade da atual crise nos exige
uma boa dose de diálogo, coragem e determinação; e, por que não dizer, de
confiança e união.
A universidade é o local ideal para as manifestações de opiniões
divergentes; é espaço que não pode ser cerceado pela camisa de força de
ideias unilaterais. Basta levantar os olhos sobre o mapa do país e verificar
como se posicionam, lado a lado, a instituição universitária e o que se pode
classificar como desenvolvimento econômico, menor desequilíbrio social,
melhor qualidade de vida. Concluo esta carta com o poema do ex-reitor da
Universidade Estadual do Maranhão, José Augusto Oliveira:
UNIVERSIDADE
ÉS MESMO DISTINTA / EM CADA OPÇÃO / DO TEU CURSO / E AGORA
CONHEÇO A TUA SINA / SEI QUAL É O TEU DESTINO / CRUZEI, SEGUI
TUAS PEGADAS / E VI: NÃO ÉS APENAS / O QUE ENSINAS; ÉS
PRINCIPALMENTE / O QUE DESPERTAS – ESTÁS ONDE LIBERTAS. / ÉS
PLENAMENTE, / ONDE SE CRIA. / MORAS ONDE / A CULTURA RESISTE, /
ÉS INTEIRAMENTE / CORAGEM E OUSADIA.
Alex da Silva Sirqueira
Rio de Janeiro, 10 de maio de 2016