Entrevista com José Alfredo da Silva

José Alfredo da Silva nasceu em Bangu no ano de 1960 onde cresceu superando adversidades. Herdou o sentido empreendedor do seu pai e mudou a história da sua vida. Pautado no trabalho e no estudo aproveitou bem as poucas oportunidades e se formou em cirurgião dentista e físico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense, respectivamente. Realizado, divide seu sucesso com os mais necessitados orientando-os profissionalmente, tentando mostrar-lhes o caminho que seguiu e deu certo. Sem apego aos bens materiais José Alfredo da Silva através de ações sociais, doa serviços, produtos e ensinamentos, na tentativa de formar consciências, novos cidadãos. Não deixa a política intervir na sua vida, acha que não seria compreendido.

PZO – Como o menino da comunidade se transformou no Dr. Alfredo José da Silva?

José Alfredo – Graças à honestidade e o caráter de meu pai que como cobrador de ônibus exercia a função de protético em casa, nas horas vagas. Desta forma transferiu para os seus cinco filhos, todos autoridades na área médicas, o dom do empreendedorismo, aliado a ensinamentos que direcionavam para o trabalho e a necessidade do conhecimento. Na minha infância só teve estudo e trabalho e só me fez bem. Meu dinheiro era bem aplicado e me chamavam de Nonô Correia em alusão a um personagem local famoso por guardar dinheiro.

PZO – Quais foram os primeiros passos?

José Alfredo – Trabalhando como ajudante de protético com o meu pai, consegui passar para o Colégio Pedro II unidade São Cristovão, onde completei minha aprendizagem básica. Lá me diziam: você vai ser prefeito de Bangu! Na sequência fiz curso de técnico de protético e superiores de odontologia e física. Como militar comecei a ter o retorno dos meus investimento no estudo. A seguir conquistei meu primeiro consultório com muita dificuldade. “Vai ser consultório? E o dentista quem é?”, perguntou uma senhora ao me ver construindo as paredes do meu primeiro consultório no terreno da família.

PZO – E a chave para o sucesso quem te deu?

José Alfredo – Ela está em todo lugar, mas nem todos veem. Percebi que morava numa cidade dormitório e aliei a minha necessidade de estudar durante o dia a necessidade de quem chegava à noite do trabalho e não tinha opções: meu consultório funcionava após a 18h00min até às 24h00min. Percebi também a tendência pela cultura física e abri a Academia que na época também funcionava à noite. Por último me sensibilizei com a solidão e a particularidade do GLT que resultou na Boate Gay Malagueta, hoje transformada na casa de espetáculo Bangu Show.

PZO – Como sente na condição de pessoa bem sucedida?

José Alfredo – Sou grato a Deus pelas oportunidades que tive e procuro dividir principalmente com a comunidade desassistida um pouco do que ganhei, do intelectual ao material. Faço questão de fazer chegara a certas famílias que eu identifico, roupas, comida, eletrodomésticos e às vezes até dinheiro.  Estou planejando montar um curso preparatório para concursos públicos na Vila Vintém. Penso ainda em alugar salas de cinema para levar as comunidades, muitos ainda não conhecem um cinema. A minha esposa, a meus três filhos, a certas pessoas e aos meus funcionários, dou oportunidades de estudo e capacitação para o crescimento. Atendo no que for preciso. Tento orientá-los para que consigam ocupar seus espaços como cidadãos, com justiça e responsabilidade social. Tento dar a eles um porto seguro onde possam caminhar com as próprias pernas, independente de mim. Todos devem construir seus castelos e não encontrá-los prontos.

PZO – Em que estágio de vida se encontra?

José Alfredo – Pela minha idade no intermediário, mas não quero continuar crescendo a qualquer custo. Nosso país não é generoso com a classe empresarial, que paga imposto e responde pela vida de milhares de funcionários. Penso em trabalhar menos usando a tecnologia, e me dedicar mais a família e ao lazer. Preciso melhorar minha qualidade de vida, os resultados alcançados são gratificantes, mas tem um preço alto.  O dinheiro não é tudo, precisamos saber usá-lo, não podemos ser escravos dele. Vou abrir um centro radiológico em Bangu com tecnologia de ponta que me permita trabalhar e viver mais.

PZO – Isso tudo tem a ver com política partidária?

José Alfredo – Não, a política partidária não me pegou. Não me comporta. Político não dá nada prá ninguém e eu quero dar valor aos comunitários que não tem nada e por isso não podem ser cobrados quando fazem coisas erradas. Quem não tem valor não sabe valorizar.

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